sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Quanto tempo dura o amor?

Mensagem do Meu anjo - 23/08/2002

Quanto tempo dura o amor?

Sessenta e cinco anos, isso mesmo, sessenta e cinco anos depois, João entra na igreja e espera pela mulher de sua vida. É hoje o dia da realização de seu maior sonho, sonho que agora passa em sua cabeça como um filme, um filme que começa em preto e branco há sessenta e cinco anos atrás.

Numa tarde ensolarada de Domingo, João, aos 14 anos de idade saiu de casa para dar um passeio pela praça de sua cidade, típico passeio daquela juventude de 1935, cidade pequena do interior, onde de um lado ficavam as meninas e de outro os meninos, tempos em que um olhar valia uma promessa, e foi nessa tarde, nesse domingo ensolarado que João cruzou os olhos com a Socorro, uma moreninha de cabelos compridos e brilhantes, corpo franzino metido em um vestido de algodão muito simples, mas que marcava-lhe a cintura fina de maneira tão graciosa que João ficou alguns minutos fora do ar, parado sem conseguir se mover.

João queria saber tudo sobre aquela linda menina, mas, eram tempos onde até as informações eram mais difíceis, e foi nos diversos domingos que voltou a praça que descobriu o nome dela, a idade, onde morava, tudo graças ao monte de balas que ele dava ao irmãozinho dela, que através desse suborno, contava tudo sobre a irmã. Somente dois meses depois é que ele conseguiu se aproximar daquela menina que já tomava conta do seu coração, e foi somente para falar um oi, um boa tarde e ver a menina ficar toda corada.

A cada domingo, eles se entendiam mais com os olhares que se procuravam ansiosos, mal se falavam, mas a emoção que ambos sentiam era visível aos olhares mais atentos. Um dia, ele tomou coragem e se aproximando dela, disse em voz tremulante: "eu gosto de você, eu quero casar com você!, e saiu correndo desesperado, com o coração na mão e uma impressão de que aquela cena era a cena de sua vida...

Naquela mesma semana, antes mesmo de saber a reação de sua amada, os pais de João morrem misteriosamente, fato que ele presenciou ao estranhar que os pais não acordaram cedo como costume, as nove horas da manhã ele toma coragem, abre a porta do quarto e tenta chamar os pais, chamou, gritou, chorou e desesperado correu até a vizinha que descobriu que ambos estavam mortos. Foi uma semana difícil, mais difícil ainda foi a mudança obrigatória para a casa de uma tia em São Paulo, mais de 600 quilômetros de distância de sua amada.

Sua vida nunca mais foi a mesma, o trauma dos pais mortos, a lembrança de sua Socorro, a incerteza do futuro, tudo isso fez dele um jovem quieto, assustado e com o olhar triste que nunca mais o abandonou. Sua tia era muito amorosa, conseguiu escola e trabalho para ele, aos 18 anos casou-se com uma amiga de trabalho, moça bonita e trabalhadora, que junto com ele construiu uma família com muita dificuldade e luta.

Foram 50 anos de um casamento repleto de respeito e carinho, 4 filhos, 10 netos e 2 bisnetos, aos 68 anos, João ficou viúvo, e quase não resistiu a essa segunda perda, ficou amargurado por semanas, nem os netos que eram a sua grande alegria, conseguiam trazer lhe ânimo para a sua vida. Os filhos preocupados com seu pai, procuraram ajuda e descobriram um grupo de  terceira idade que se reunia ali bem próximo. Com muita luta e esforço os filhos conseguiram convencer João a pelo menos ir conhecer o grupo, que ele resmungão e sem vontade de sair de casa, chamou de "grupo de múmias e velharias".

Ele estava irritado naquela manhã em que se comprometeu em ir ao Grupo de Terceira Idade Sonho Meu, um dos filhos já estava na porta de sua casa esperando-o para levá-lo até lá, isso já o deixou mais nervoso, parece que eles estavam desconfiados dele, parece que eles não acreditavam que ele iria cumprir com sua promessa de ir conhecer o grupo ( e ele não iria mesmo, se dependesse dele). Vestiu-se com bom gosto, penteou os cabelos e pelo sim, pelo não usou aquela colônia que a esposa havia dado há alguns anos atrás.

Durante o trajeto com seu filho, João não abriu a boca, entrou mudo e saiu calado do carro. Ao chegar a porta do Grupo, João foi entrando pelo portão aberto e ao chegar no salão fracamente iluminado pela luz solar teve dificuldades de acostumar a vista ao ambiente. Quando piscou duas vezes pode perceber umas quarenta pessoas sentadas em círculo e uma senhora muito sorridente se aproximou e lhe deu boas vindas, indicando-lhe uma cadeira para que se sentasse.

Um pouco assustado ainda, ele começou a olhar para aquelas pessoas e quase seu coração sai pela boca ao olhar para uma senhora franzina a sua frente, ela sentiu o seu olhar e pareceu tão assustada quanto ele, seus olhos se cruzaram e pareciam não acreditar no que viam. Era a Socorro, sim, ele tinha certeza, era a sua Socorro, a menina morena de cabelos compridos, aquela que um dia ele disse que gostava, aquela que a vida havia separado, a mesma vida os reaproximava mais de sessenta anos depois. Sem conseguir falar, João foi tomado de uma grande emoção, e pela primeira vêz na sua vida, João chorou. Chorou como uma criança, um pranto que estava guardado há mais de sessenta anos. João chorou a morte dos pais, a separação de sua amada, a morte de sua tia, a morte de sua esposa, chorou, chorou, até secarem as lágrimas.

Hoje é um dia feliz, João vai se casar com a Socorro. Mais de sessenta anos depois, após cumprirem com seus compromissos de vida, ambos viúvos e realizados, casam-se neste dia, na presença dos filhos, dos netos, bisnetos e dos anjos que finalmente colocaram um final feliz na vida de João e Socorro. O amor é uma porta que permanece aberta pelos anos, um dia alguém vai entrar por ela em sua vida e nunca, nunca mais vai sair.

Eu acredito em você!

Beijo azul

Paulo

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