Mensagem do Meu        anjo - 23/08/2002
Quanto        tempo dura o amor?
Sessenta        e cinco anos, isso mesmo, sessenta e cinco anos depois, João entra na        igreja e espera pela mulher de sua vida. É hoje o dia da realização de seu        maior sonho, sonho que agora passa em sua cabeça como um filme, um filme        que começa em preto e branco há sessenta e cinco anos atrás.
Numa        tarde ensolarada de Domingo, João, aos 14 anos de idade saiu de casa para        dar um passeio pela praça de sua cidade, típico passeio daquela juventude        de 1935, cidade pequena do interior, onde de um lado ficavam as meninas e        de outro os meninos, tempos em que um olhar valia uma promessa, e foi        nessa tarde, nesse domingo ensolarado que João cruzou os olhos com a        Socorro, uma moreninha de cabelos compridos e brilhantes, corpo franzino        metido em um vestido de algodão muito simples, mas que marcava-lhe a        cintura fina de maneira tão graciosa que João ficou alguns minutos fora do        ar, parado sem conseguir se mover.
João queria saber tudo sobre        aquela linda menina, mas, eram tempos onde até as informações eram mais        difíceis, e foi nos diversos domingos que voltou a praça que descobriu o        nome dela, a idade, onde morava, tudo graças ao monte de balas que ele        dava ao irmãozinho dela, que através desse suborno, contava tudo sobre a        irmã. Somente dois meses depois é que ele conseguiu se aproximar daquela        menina que já tomava conta do seu coração, e foi somente para falar um oi,        um boa tarde e ver a menina ficar toda corada.
A cada domingo, eles        se entendiam mais com os olhares que se procuravam ansiosos, mal se        falavam, mas a emoção que ambos sentiam era visível aos olhares mais        atentos. Um dia, ele tomou coragem e se aproximando dela, disse em voz        tremulante: "eu gosto de você, eu quero casar com você!, e saiu correndo        desesperado, com o coração na mão e uma impressão de que aquela cena era a        cena de sua vida...
Naquela mesma semana, antes mesmo de saber a        reação de sua amada, os pais de João morrem misteriosamente, fato que ele        presenciou ao estranhar que os pais não acordaram cedo como costume, as        nove horas da manhã ele toma coragem, abre a porta do quarto e tenta        chamar os pais, chamou, gritou, chorou e desesperado correu até a vizinha        que descobriu que ambos estavam mortos. Foi uma semana difícil, mais        difícil ainda foi a mudança obrigatória para a casa de uma tia em São        Paulo, mais de 600 quilômetros de distância de sua amada.
Sua vida        nunca mais foi a mesma, o trauma dos pais mortos, a lembrança de sua        Socorro, a incerteza do futuro, tudo isso fez dele um jovem quieto,        assustado e com o olhar triste que nunca mais o abandonou. Sua tia era        muito amorosa, conseguiu escola e trabalho para ele, aos 18 anos casou-se        com uma amiga de trabalho, moça bonita e trabalhadora, que junto com ele        construiu uma família com muita dificuldade e luta.
Foram 50 anos        de um casamento repleto de respeito e carinho, 4 filhos, 10 netos e 2        bisnetos, aos 68 anos, João ficou viúvo, e quase não resistiu a essa        segunda perda, ficou amargurado por semanas, nem os netos que eram a sua        grande alegria, conseguiam trazer lhe ânimo para a sua vida. Os filhos        preocupados com seu pai, procuraram ajuda e descobriram um grupo de         terceira idade que se reunia ali bem próximo. Com muita luta e esforço os        filhos conseguiram convencer João a pelo menos ir conhecer o grupo, que        ele resmungão e sem vontade de sair de casa, chamou de "grupo de múmias e        velharias".
Ele estava irritado naquela manhã em que se comprometeu        em ir ao Grupo de Terceira Idade Sonho Meu, um dos filhos já estava na        porta de sua casa esperando-o para levá-lo até lá, isso já o deixou mais        nervoso, parece que eles estavam desconfiados dele, parece que eles não        acreditavam que ele iria cumprir com sua promessa de ir conhecer o grupo (        e ele não iria mesmo, se dependesse dele). Vestiu-se com bom gosto,        penteou os cabelos e pelo sim, pelo não usou aquela colônia que a esposa        havia dado há alguns anos atrás.
Durante o trajeto com seu filho,        João não abriu a boca, entrou mudo e saiu calado do carro. Ao chegar a        porta do Grupo, João foi entrando pelo portão aberto e ao chegar no salão        fracamente iluminado pela luz solar teve dificuldades de acostumar a vista        ao ambiente. Quando piscou duas vezes pode perceber umas quarenta pessoas        sentadas em círculo e uma senhora muito sorridente se aproximou e lhe deu        boas vindas, indicando-lhe uma cadeira para que se sentasse.
Um        pouco assustado ainda, ele começou a olhar para aquelas pessoas e quase        seu coração sai pela boca ao olhar para uma senhora franzina a sua frente,        ela sentiu o seu olhar e pareceu tão assustada quanto ele, seus olhos se        cruzaram e pareciam não acreditar no que viam. Era a Socorro, sim, ele        tinha certeza, era a sua Socorro, a menina morena de cabelos compridos,        aquela que um dia ele disse que gostava, aquela que a vida havia separado,        a mesma vida os reaproximava mais de sessenta anos depois. Sem conseguir        falar, João foi tomado de uma grande emoção, e pela primeira vêz na sua        vida, João chorou. Chorou como uma criança, um pranto que estava guardado        há mais de sessenta anos. João chorou a morte dos pais, a separação de sua        amada, a morte de sua tia, a morte de sua esposa, chorou, chorou, até        secarem as lágrimas.
Hoje é um dia feliz, João vai se casar com a        Socorro. Mais de sessenta anos depois, após cumprirem com seus        compromissos de vida, ambos viúvos e realizados, casam-se neste dia, na        presença dos filhos, dos netos, bisnetos e dos anjos que finalmente        colocaram um final feliz na vida de João e Socorro. O amor é uma porta que        permanece aberta pelos anos, um dia alguém vai entrar por ela em sua vida        e nunca, nunca mais vai sair.
       
Eu        acredito em você!
Beijo azul 
Paulo
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